sábado, 18 de abril de 2009

Quinta Cúpula das Américas



Trinta e quatro chefes de Estado e governos (foto acima), com a discriminatória ausência de Raúl Castro, líder cubano, se reúnem em Trinidad e Tobago de 17 a 19 de abril. É a maior reunião do hemisfério*,falam os analistas. A Cúpula das Américas é uma reunião promovida pela Organização dos Estados Americanos (OEA), organização que, em 1962, vetou a participação de Cuba nesse evento.

A Cúpula das Américas foi criada em 1994, por iniciativa do presidente dos EUA Bill Clinton, com o objetivo, entre outros, de viabilizar a Área de Livre Comércio das Américas (ALCA). Essa estratégia do imperialismo estadunidense foi derrotada na IV Cúpula, realizada em Mar del Plata, nos dias 4 e 5 de maio de 2005.
A quarta "Cumbre", para usar o termo em espanhol, engavetou a proposta da Alca e, entre outras resoluções, elegeu o chileno José Miguel Insulza como secretário-geral por cinco anos. Secundariamente, também foram aprovados temas relativos ao trabalho decente, ao combate ao trabalho infantil e proteção aos imigrantes. Não por acaso, essa também é uma agenda incorporada por centrais sindicais internacionais e nacionais.

Voltemos à Quinta Cúpula. A agenda oficial tratará da prosperidade humana, segurança energética e sustentabilidade ambiental. Mas o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, diz que uma agenda não escrita terá como tema o fim do veto à participação de Cuba.

A socialista e ausente ilha cubana será o foco, o que é sinal dos tempos. Antes de análises apressadas, é necessário compreender os movimentos da "nova diplomacia" de Barack Obama.

Ao contrário de Bush, o líder da maior potência mundial acena com aproximação para a América Latina e mudanças de posturas diante de Cuba e até de países como a República Bolivariana da Venezuela. As mudanças podem ser pequenas, cosméticas, mais de forma do que de conteúdo, mas na análise concreta dos fatos políticos esses câmbios precisam ser interpretados sob óticas novas, caso contrário só vamos ficar repetindo clichês.

Se em 2005 a Cúpula das Américas enterrou aquilo que foi a razão de seu surgimento -a construção da Alca, a Quinta reunião pode abrir caminho para o fim do bloqueio imperialista a Cuba. É uma hipótese.

Essas possibilidades não são ditadas pela mudança do caráter e do papel do Big Brother do Norte. O declínio progressivo dos EUA leva o stablishment do império a rever suas estratégias. A crise econômica e o isolamento político e diplomático enterram o unilateralismo americano e alteram a posição das as peças do tabuleiro mundial.

Da mesma forma que Obama precisa rever a posição diante da República Islâmica do Irã, deixando de lado a tese do "Eixo do Mal"da Era Bush, do lado de cá do Atlântico há manejos da diplomacia estadunidense no sentido de enfrentar a maré mudancista latino-americana.

A posição moderada de Lula é um trunfo de que se serve Obama em seu jogo estratégico para se recompor na região. "Esse é o cara" não foi uma afirmação aleatória. Cumprimentar Chávez (foto) também não. Flexibilizar com Cuba também pode fazer parte desse grande jogo.

Na minha modesta opinião, esses são os grandes temas da agenda internacional da nossa região.

Nessas horas, limitar-se a repetir palavras de ordem pode soar como bravatas inúteis. Se o inimigo muda a tática e a estratégia, independentemente de nossa vontade temos de adotar contrapartidas compatíveis com o novo momento.

Do contrário, podemos contrariar o Macaco Simão, segundo o qual quem fica parado é poste.


*Hemisfério - Esse termo designa a divisão imaginária da terra pela metade. Essa metade pode ser dividida pelo Equador (aí temos o hemisfério norte, o dos ricos, e o hemisfério sul, o dos pobres), ou pelo Meridiano (aí temos o hemisfério ocidental e oriental). Na Cúpula das Américas trata-se de uma reunião do hemisfério ocidental. Faço esse esclarecimento por que eu próprio fiquei em dúvida sobre o duplo significado da palavra hemisfério. O "google" me salvou.

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