quarta-feira, 13 de maio de 2009

Sucessão paulista II

Ao contrário de outros estados, o PSDB e seus aliados conquistaram uma forte hegemonia política em São Paulo. Esse é um problema de grandes proporções. Como o estado detém 20% do eleitorado nacional e é reduto da oposição conservadora, a tragédia paulista contamina politicamente o país.

O PSDB governa São Paulo desde janeiro de 1995, com a eleição de Mário Covas. Morto no segundo mandato, Covas passou o trono para Geraldo Alckmin e este para o atual governador José Serra. Já são 14 anos e cinco meses de reinado tucano!

Além do apoio da maioria dos partidos políticos (na Assembleia paulista só o PCdoB, PT e PSOL são de oposição), os tucanos tem forte apoio na mídia, no grande empresariado, na academia, no Judiciário e no Ministério Público. É um superpoder!

A base dessa articulação política são os poderosos interesses econômicos aqui concentrados. A fonte da popularidade do governo Lula - PAC, bolsa-família, prouni, luz para todos, valorização do salário mínimo - tem impacto menor em São Paulo. O que prevalece no imaginário social é a guerra midiática apoiada no denuncismo, na chacota e na desmorolização do governo Lula e do PT.

Diariamente o noticiário fala em corrupção, incompetência administrativa, gastança, relações externas desastrosas, alianças espúrias, campanhas eleitorais permanentes e por aí vai. Vale o água mole em pedra dura tanto bate até que fura...

A própria oposição não consegue articular um programa alternativo consistente, um discurso coeso e ações unitárias. Partidos como o PSOL e o PSTU batem com igual intensidade no governo Serra e no governo Lula, semeando confusão entre setores mais avançados. O PT paulista tem uma coleção dos seus principais quadros bombardeados por escândalos reais ou inventados e sempre amplificados.

Agora mesmo, na discussão dos nomes da oposição para disputar o governo do Estado, todas as chamadas estrelas de primeira grandeza do petismo estão chamuscadas. O PMDB quercista se bandeou para a seara tucana. O PSB, o PDT e o PCdoB não tem nomes de envergadura para enfrentar Alckimin, Aloysio Nunes ou quem quer que seja o candidado do condomínio conservador.

Guiados por FHC, os tucanos paulistas multiplicam seus esforços para compor com Aécio e o poderoso colégio eleitoral mineiro. Como abutres, também buscam se nutrir dos efeitos deletérios da crise. Desemprego, piora nas condições sociais e todas as mazelas são usados e abusados para debitar na conta do Lula e, assim, tentar corroer sua popularidade e sua capacidade de transferir prestígio para a sucessão.

Esse cenário pessimista pode ser revertido. Uma repactuação política do governo, ancorada nas forças do trabalho e da produção, aglutinada em uma ampla frente nucleada pela esquerda, com um programa claro de continuidade e aprofundamento do ciclo progressista pode desperar as energias do povo e das forças democráticas para conquistar êxito eleitoral.

Uma situação nacionalmente favorável injetará ânimo novo em São Paulo e poderá contrabalançar a atual correlação de forças desfavorável. Temos que reconhecer que o caminho em São Paulo é mais longo, tortuoso e difícil do que em outros estados, mas aqui sempre há um histórico positivo de grandes jornadas de lutas.

Mais do que nunca, devemos resgatar o celébre ensinamento de Marx, em uma de suas antológicas passagens no Manifesto do Partido Comunista, quando esse gênio da raça cravou a frase imortal segundo a qual "tudo o que é sólido se desmancha no ar".

A consciência dos brasileiros de São Paulo não pode ficar adormecida diante das forças da privatização, do conservadorismo político, das práticas recorrentes contra os trabalhadores e o povo mais sofrido.

A abundante obra publicitária do governo, reverberada por uma mídia dócil e comprometida com os tucanos, não poderá enganar a todos todo o tempo.

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