segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

O Discurso do Rei

Depois de assistir "O Discurso do Rei", fui tentado a ler algumas coisas sobre o Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte. Coisa meio confusa. Começa pela composição de tal Reino, com quatro países que não são países: Inglaterra, Irlanda do Norte, Escócia e País de Gales.

Como eles disputam a Copa do Mundo como países soberanos - não sei a origem desse status esportivo privilegiado - muita gente se confunde. Mas eles são representados nos organismos internacionais como um único país - o Reino Unido.

O País é uma monarquia hereditária e não-laica (só anglicanos podem ser reis ou rainhas). Lá tem uma Câmara dos Lordes, não eleita e com cargos vitalícios, (vide a pomposa foto) com funções legislativas e até judiciais - é a mais alta corte de apelação para a maioria dos processos.

Para ser membro da Câmara dos Lordes, ou se é da cúpula da igreja anglicana ou membro da fina flor da elite. Antes prevalecia até o direito hereditário automático para compor a Câmara Alta do Reino Unido. Essa Câmara é uma contraposição da elite à Câmara dos Comuns, esta eleita por um mandato de cinco anos.

Falo tudo isso porque, para surpresa de muitos, inclusive minha, o filme "O Discurso do Rei" ganhou o mais badalado trofeu do cinema mundial, o Oscar, o prêmio da Academia dee Artes e Ciências de Los Angeles. O filme, na verdade, faturou quatro estatuetas, glória máxima do cinema.

O leitmotiv do filme é o esforço do Rei George VI para superar sua gagueira e poder falar com os súditos. Um fonoaudiólogo heterodoxo da Austrália tenta tratar o rei. Sua Majestade precisava fazer um imponente discurso sobre a declaração de guerra do Reino Unido contra a Alemanha. Gaguejar seria sinônimo de fraqueza, tibiedade. É por aí que o filme rola.

O Rei George VI foi pai da atual Rainha Elisabeth. O filme, como anota alguns, pode ser enquadrado no esforço de reabilitar os valores da monarquia e dar um sentido épico aos remanescentes do antigo Império Britânico.

Um crítico disse que os britânicos são fascinados pelos seus monarcas e que os americanos são fascinados pelos britânicos, talvez uma relação saudosista e subserviente do período colonial. O fato é que a soma desses dois fatores - mais um lobbyzinho básico para essas horas, levou o filme a conqusitar o cobiçado  prêmio.

Família Real, Câmara dos Lordes, sucessão hereditária, cargos vitalícios, religião estatal,  tudo isso são marcos da civilização ocidental? Se essa herança anacrônica da Idade Média é admitida como civilizada, onde repousa a autoridade moral e política dos que chamam de bárbaros e fundamentalistas os povos árabes ora em convulsão?

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