sábado, 12 de março de 2011

Chovem dólares no Brasil

O conservador "O Estado de S. Paulo", na edição deste sábado, 12 de março, publica um editorial interessante intitulado "A inundação de dólares continua". Os editorialistas do Estadão, queiramos ou não, esgrimem seus argumentos com um invejável Português. Eles tratam com carinho a última flor do Lácio.

O editorial reconhece que "o real valorizado encarece os produtos brasileiros, dificulta as vendas no exterior e estimula as importações". Os dados chegam a assustar: de janeiro a 4 de março deste ano, lembra o editorialista, "o ingresso líquido (entradas menos saídas) chegou a US$ 24,36 bilhões", mais do que o total de 2010!

Alguém já disse que crise inflacionária aleija e crise cambial mata. E o problema apontado atende pelo nome de crise cambial. Pode matar? O jornal admite que as medidas adotadas até agora para enfrentar a apreciação do Real não surtiram efeito pela simples e boa razão de que o Brasil virou paraíso dos especuladores.

Com isso, a derradeira medida do Banco Central é acumular reservas. "O estoque de moeda estrangeira passou de US$ 288,58 bilhões em 31 de dezembro para US$ 311,05 bilhões". Essas reservas podem ser úteis em períodos de crise, mas "a aplicação desse dinheiro rende menos que o custo de sua manutenção".

O mantra que move as autoridades monetárias é fixar uma meta de inflação. Qualquer elevação acima da meta, e o remédio amargo é a elevação da taxa de juros. Esse "remédio" provoca estragos na economia (freia o crescimento) e alimenta ainda mais a chuva de dólares no Brasil.

Os especuladores inundam o Brasil de dólares para ganhar dinheiro fácil com a nossa taxa recorde de juros. O remédio para conter a inflação, aumento da taxa Selic, pode matar o doente com uma crise cambial violenta, eis o resumo da ópera.

Por fim, embora diga que "não há solução fácil para esse problema" - entrada de dólares e apreciação exagerada do Real - o editorial, com a maior candura do mundo, diz que o BC tem pouca margem de ação, por isso o governo deve cortar fundo nos gastos, mais do que os anunciados R$ 50,1 bilhões de ajuste fiscal.

Por incrível que possa parecer, o jornal não cita uma única vez a alternativa do controle seletivo do fluxo cambial, medida defendida por quem está a fim mesmo de impor barreiras mais consistentes contra essa verdadeira farra especulativa que pode drenar as energias do país.

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