quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Guerra eleitoral em SP

As eleições municipais de São Paulo impressionam pelos números. O total de eleitores contabilizados pelo TSE soma 8.619.170. Essa multidão, superior a população de muitos estados brasileiros, vota em 1.962 locais diferentes. Desse universo heterogêneo, contam-se aos milhões às divisões por faixa etária, por escolaridade, por renda e por local de moradia.

Uma cidade cuja população é maior do que a de Portugal ou Cuba, para ficar apenas em dois exemplos, não tem pensamento político homogêneo. A extraordinária diversidade de sua composição tem como contrapartida um comportamento político que às vezes surpreende ou engana o observador menos atento. E essa complexidade aparece com força no atual processo eleitoral.

Pela lógica política, os dois partidos com maior representatividade na cidade, o PT de Haddad (na foto com a sua companheira de chapa, a candidata a vice-prefeita Nádia Campeão)  polarizaria as eleições com o PSDB de Serra. Essa previsível bipolarização orientou, inclusive, a definição das táticas políticas e o eixo de atuação dos marqueteiros. As famosas pesquisas qualitativas, mola-mestra das campanhas, trilharam por esse rumo.

Mas fenômenos novos embaralharam as cartas do jogo sucessório paulistano. As mudanças mais emblemáticas atingiram o poleiro dos tucanos. Serra, em sua propaganda, diz que São Paulo não quer saber de mais taxas. Ocorre que há uma taxa especial que, para desgraça do candidato,  cresce muito na cidade, que é a taxa de rejeição do eleitorado ao seu nome. Os números variam, mas ela ronda os 40%, índice que, se não for revertido, inviabiliza o eterno candidato.

Há um consenso na cidade de que a origem da rejeção deve-se a vários fatores: sua renúncia à prefeitura, quando havia prometido e registrado em cartório o compromisso de cumprir o mandato até o fim; a grande impopularidade do atual prefeito, seu sucessor e fiel aliado; a sensação de mesmice do seu nome e suas propostas, um veterano político de setenta anos que tem como característica principal participar de todas as eleições como trampolim para seu nunca alcançado sonho presidencial.

A soma desses fatores negativos funciona como uma âncora que segura seu crescimento. Cada rodada de  pesquisa consolida a terrível gangorra em que Serra se meteu: sua rejeição é inversamente proporcional aos recalcitrantes eleitores que ainda apoiam o seu nome. Nessa enrascada em que está metido, Serra, agora, apela até para o impopular FHC dar uma força à sua campanha e cobra do seu desafeto interno, Geraldo Alckmin, um empenho que ele próprio não teve quando o atual governador disputava com Kassab os votos tucanos.

Na outra ponta, vemos o avanço consistente e continuado da coligação encabeçada por Haddad, fenômeno que já era, de certa forma, esperado. Apoiado por Lula e por Dilma, o candidato petista supera positivamente o fato de ser pouco conhecido na cidade. Tem o melhor programa para a Prefeitura e conta com uma ampla rede de apoios espalhada pela cidade. Acrescente-se a presença em sua campanha de lideranças políticas e populares  e um bom programa de TV, o que dá capilaridade à campanha e credencia Haddad  para ir ao segundo turno e vencer as eleições municipais.

O azarão da vez e a grande surpresa das eleições atende pelo nome de Russomano. Correndo por fora e sem se envolver em polêmicas com os outros candidatos, Russomano surpreendeu a todos e passou a liderar as últimas pesquisas, destronando José Serra. Mais: as indicações apontam que seu nome consegue avançar até em redutos tradicionais do PT.

As eleições serão daqui a um mês. Muita água vai rolar e as posições atuais podem se alterar. O voto espontâneo em Russomano, segundo alguns analistas, confere a ele o potencial de segurança para ir ao segundo turno, mesmo com uma base partidária e social bem mais frágil do que a de Haddad e a de Serra. Afirma-se que 85% dos eleitores de São Paulo querem mudança. A cristalização dessa vontade pode ser a pá de cal para Serra, de um lado, mas pode trazer um complicador para a campanha de Haddad: o novo, para parte do eleitorado, pode ser o próprio Russomano.

Esse embolamento cobrará dos responsáveis pela campanha de Haddad um triplo desafio: persistir no combate aos tucanos, consolidar a imagem e o programa do candidato e estudar uma flexão tática para uma polarização que não era esperada com Russomano. Tais variedades fazem parte da guerra eleitoral, não há com o que se espantar. O plano de campanha está bem orientado, mas adaptações no percurso podem ser necessárias. Por ora, garantir a presença no segundo turno é o essencial. E essa garantia parece que obrigará Haddad a dizer para Serra; "forasteiro, essa cidade é pequena (!) demais para nós dois!"  



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